Google+ SOMBRAS DA MEMÓRIA: 01/01/2010 - 02/01/2010

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Sepultados vivos










Em cada canto sombrio,
inesperado, ouvem-se vozes,
conservadas pelo frio,
como apodrecidas nozes...

Ei-los! Sepultados vivos,
sem nomes nem idades...


Extraviados sem retorno,
aninham-se no ventre da noite,
viajam no corpo da madrugada e
amanhecem nos postais ilustrados
das cidades sem alma...

Cidade








Prostitutas deambulam na cidade
que ferve por entre os dentes das horas...
Desfilam numa passerele sem nome,
ensaiam gestos, movimentos...
Ondulam as ancas abertas,
exibem os seios hirtos...
Os lábios exalam um misto
de prazer e náusea...
As esquinas são abrigos armadilhados,
 gastos pela escravidão e pelo medo...
Ao longe, numa falsa timidez,
Maria, tem no olhar as primaveras
que não viveu...
Doce, quase humana,
olha a tarde em busca de um milagre...
Uma blusa transparente ondula,
a mini saia convida...
Maria, tem uma voz fraca,
doces e densos os olhos parecem húmidos...
O crepúsculo tomou conta da cidade,
as cores e as faces, são apenas silhuetas,
anónimas, sem alma...
O largo fica mais povoado,
sombras atravessando sombras...
Maria, acabou de negociar as entranhas...
Negou mais uma chance
de sentir-se amada...





Altares sem esperança
















Olhos desventrados nas colinas do medo,
lanços espezinhados pela tortura do tempo...
Dementes, os teus passos e pensamentos
difusos, confusos, ausentes, latentes...
Vultos que se movem nas esquinas,
sombras negras, rápidas e sólidas...
Desespero no olhar vazio das paisagens mortas...
Altares sem esperança, lugares estéreis,
gente gritando o último grito...
Ossadas esquecidas,
saltos altos, gravatas, poder, vaidade...
Longe, entre gemidos,
espasmos e sonhos,
a vida insiste, persiste, resiste
e perde...
Ciclo paradoxal,
consciências que se volatilizam
na eternidade...
Morte...


Barão de Campos

Promessas vadias









Últimas palavras, gestos, olhares,
traição da memória...
sedentos de ódio, rasgam o espaço,
perfuram lancinantemente a alma...
...sempre e nunca...
impossibilidades possíveis,
sofrimentos esquecidos...
eternas saudades que se esbatem
no passar dos dias...
ausência solidificada...
sombras partindo,
sons ofegantes,
distantes, quase inaudiveis...
memórias em agonia...
estranhos na estranheza
consolidada da negação...
Abraços gélidos,
lugares sem nome,
recordações assassinadas...
Promessas vadias,
derramadas pelas esquinas,
sonhos dedilhados
em acordãos falsos...
Palavras partidas,
gravadas nas lápides
quase brancas do silêncio...
Amor sangrando
no rasto de um poema
que desejou ser matéria,
forma e alma...
Frias e vazias
as mãos fecham-se,
os braços cruzam-se...
as lágrimas mortas e humilhadas
secaram a memória
dos corpos, num tempo
feito de gesso...



Barão de Campos


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