Prostitutas deambulam na cidade
que ferve por entre os dentes das horas...
Desfilam numa passerele sem nome,
ensaiam gestos, movimentos...
Ondulam as ancas abertas,
exibem os seios hirtos...
Os lábios exalam um misto
de prazer e náusea...
As esquinas são abrigos armadilhados,
gastos pela escravidão e pelo medo...
Ao longe, numa falsa timidez,
Maria, tem no olhar as primaveras
que não viveu...
Doce, quase humana,
olha a tarde em busca de um milagre...
Uma blusa transparente ondula,
a mini saia convida...
Maria, tem uma voz fraca,
doces e densos os olhos parecem húmidos...
O crepúsculo tomou conta da cidade,
as cores e as faces, são apenas silhuetas,
anónimas, sem alma...
O largo fica mais povoado,
sombras atravessando sombras...
Maria, acabou de negociar as entranhas...
Negou mais uma chance
de sentir-se amada...
Caem gôtas da chuva, mas caem como gemas transparentes, frias, de gêlo. Olho-as por detrás da vidraça, ela mesma preenchida de infímas gotas de vidro fundido, gerado na poeira das areias do deserto. Olho-as pelo espelho d'alma e súbito uma lágrima pinga ao chão, esplode atomicamente. Não se ouve a explosão, e nem a implosão que traz consigo. Mas meu peito sabe e meu coração ama a tarde que chora comigo lá fora !
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