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Espelho...







Olha bem dentro dos meus olhos,
consegues ver a raíz das lágrimas,
aquele lugar onde o tempo me sequestrou...
Olha bem dentro dos meus olhos,
procura-me, encontra-me
se ainda for possível o resgate...

Olha bem dentro dos meus olhos,
navega nas minhas lágrimas,
navega como se procurásses
um porto de abrigo...
Navega como se a praia do pensamento
estivesse no horizonte...

Olha bem dentro dos meus olhos,
tenho a certeza que escutarás
o soluçar de uma criança
esquecida no tempo...

Olha bem dentro dos meus olhos,
olha através da janela do tempo,
escuta o múrmurio das lágrimas,
lentas e lancinantes...

Olha bem dentro dos meus olhos,
mesmo que não acredites,
esta imagem espelhada,
estes cabelos brancos,
esse olhar transmutado,
desesperado e triste
pertencem-te...


Barão de Campos

Na tua indiferença...








Morrer nas palavras
o som desesperado da mente,
procurar nos lugares mais desertos
a humidade seca dos teus lábios
intolerantes e anacrónicamente lascivos
na pretensão da indiferença,
imponentes, hirtos e esmagadoramente mortíferos
no acto de sorver a vida e o prazer que a inunda...

Lábios ondulantes na lúxuria estridente,
selando os contornos de um amanhã disforme,
quase inerte, ainda que bífido e venenoso...
Sinto a desventura lenta da saliva corrosiva,
sulcando hemorrágicamente a alma,
num beijo ferindo um desejo por cumprir...

Cerro os dentes, silencio a mente,
desligo o olhar, quebrando o encanto
num gesto de presa...

Procuro nas tuas mãos um sinal,
um movimento de cúmplicidade...
Alguma coisa que permaneça
na memória da memória sem nome...

Quando a memória partir...








Não sei quanto tempo nos resta,
quantos dias terei para te olhar,
beijar, tocar ou apenas sentir a tua presença...
Não sei durante quanto tempo
vamos adormecer de mãos dadas...
Não sei... cada dia parece mais breve...
Sabes, do fundo das nossas lágrimas,
ambos sabemos que um dia sonhámos
muitos dos sonhos vividos...
Sabes, sempre vi no verde dos teus olhos,
a eternidade que o teu corpo te nega,
sempre vi no teu sorriso o medo da dôr que suportas...
Hoje, adormeço no cansaço das lágrimas
que não poderemos chorar juntos...
Não sei como poderei chorar-te
sem te ter junto a mim...
Sabes, quando penso nisso,
continuo a acreditar que ficas
depois de partir...
Queria pronunciar o teu nome,
para que ninguém te confunda,
assinar e reconhecer o nosso amor,
para que ninguém se faça passar por ti...
Queria ter a certeza que depois de Nós,
a memória não partísse nunca...
Queria acreditar que ao pensar-te,
algures, escutarias o meu apelo.. 
Durante todos estes anos o nosso amor foi único,
ameaçado, perigoso, eterno e breve...
Profundo, puro e belo como o nosso filho...
Um Milagre!


Dentro do Medo










Agarro as palavras, arrasto-lhes o sentido,

pronuncio-as prudentemente,

silencio-lhes a aspereza e o mêdo,

pego-lhes de rompante,

como quem apanha uma serpente...

Viscosas, enrolam-se, estrangulam-me,

numa roda que gira entrecurtada

por silêncios que ruminam

sem propósito ou destino...

Rumo em direcção aos lugares

famintos de dôr e amor,

carentes de vida e de sonho...

Debruço-me donde vislumbrava

horizontes e marés...

Estemeço na vertigem,

irmã do abandono...

Olho-te no caminho da memória,

revejo a tua expressão,

sem vida...

Assusto-me nas palavras que não digo,

como quem ama em segredo...

Adormeço na tarde ainda quente

da tua presença colorida...

Adivinho a manhã que se recusa a nascer,

olhando a madrugada morta...

Abraço o vazio, num gesto sem nexo,

amarro memórias,

imagens, lugares, paisagens...

Recolho o último vestígio,

como quem emoldura

a sua própria imagem...

Ondulo o espanto no desencanto

do canto...

Navego na espuma dos dias

em busca de um navio fantasma...



Barão de Campos

Nos Últimos Momentos...






Nos últimos momentos, talvez procure o teu calor, a tua ternura, ou apenas decida abandonar-me na solidão solene do último olhar...
Nos últimos momentos, é provável que a fragilidade seja próxima da orfandade, é natural que te pegue na mão para que a partida seja menos dolorosa...
Receio a aflição dos instantes derradeiros, sabendo-os finais...
A solidão comporta uma forma muito especial de ante-câmara da morte...
Confesso que não deveria estar a falar da morte, da minha morte, quando a vida ainda me pode surpreender...
Não sei, a tarde caiu densa e sufocou o meu coração e a minha alma magoada de uma dôr indizível...

Algures...








Não sei se é tarde em mim ou se a madrugada insiste em romper o véu deste real que me separa e corroi...
Não sei se é tarde ou manhã ou se ainda me resta algum tempo mais...
Não sei a côr dos teus lábios nem se os consigo tingir com o cansaço dos meus...
Não sei se as lágrimas podem ser eternas, nem se a angústia morre nos meus gestos de não acontecer...
Desconheço o sabor das palavras, a forma de suavizar o abismo... Nada resiste ao ondular indistinto do pensamento...
Nenhuma palavra, gesto ou grito sobreviverá...

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