Podia apenas tratar-te por madrugada,
esquecer o teu verdadeiro nome,
deixar partir o sabor dos teus lábios,
perder o teu rosto, lentamente no horizonte...
Podia, apenas lembrar-me do teu anonimato,
dos teus olhos sem ontem nem amanhã,
dos gestos saturados e repetidos...
Podia, nesta crueldade faminta
de devorar as memórias,
inventar-te um nome, uma morada,
talvez uma vida...
Podia, consumir-me na imensidão dos sentidos,
fazer dos meus olhos o teu olhar,
dos meus lábios o teu beijar...
Podia tentar tudo num último momento,
inventar-te um coração e uma alma
para poderes amar...
Podia abraçar-te e acreditar que sentias,
podia gritar o teu nome na direcção da multidão,
podia procurar-te em todos os lugares,
podia lembrar-te numa última visão,
pensar-te apenas e soltar um som,
talvez um nome,
Madrugada...