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O Velhote da cama 35









Amanhã serás o ontem esmagado,
o rasto dos teus passos serão meras sombras
no desalinho das emoções esquecidas...
Galgas os dias, afugentas as horas,
abraças os instantes em despedidas
sem corpo...
Procuras as marcas da tua presença
e encontras fantasmas em agonia...
Cansado de amanhãs nascidos mortos,
caminhas na solidão sem nome...
Hoje, mais do que ontem,
sabes que ninguém escutará
as tuas súplicas...
Vives paredes meias com a morte,
sem ninguém que testemunhe
a tua existência...
Morres em cada lágrima
o desespero do tempo...
Resistes mais um instante,
como quem ainda espera por alguém
ou por alguma coisa...
Morre dentro de ti a última memória
daquilo que sentiste vida,
morre dentro de ti
o último lugar onde acreditáste
em milagres...
Indiferente, a tarde cai,
igual à última tarde...
Sentes que a tua solidão
é o teu pior carrasco...
A noite chega, escura,
quase morte...
continuas só, absolutamente só...
Não sabes se estás louco
ou lúcido...
Esqueceste-te de ti,
do teu nome...
Sabes que ninguém se lembrará
de quem foste...
Serás apenas o velhote da cama 35,
o tal que não tem ninguém,
o tal que chora todas as noites...
serás apenas mais um sem nome
e sem história...





Memória







A manhã era um lugar de esperança,
caminhava para ti, no encanto de te ver,
vislumbrava-te na distância,
os passos e o coração aceleravam,
acontecia o beijo quente e doce,
num abraço de vidas,
num relance de eternidade...

Amar-te era a razão, a única razão,
tocar-te, sentir-te, olhar-te...
Apertávamos as mãos e a terra tremia,
ano após ano, dia após dia,
em cada instante,
Amo-te terna e eternamente...


Barão de Campos

Mulher paisagem














Docemente, os teus olhos dançavam,

flutuavam no movimento do corpo,


como canoas brancas à deriva...




Quentes, os teus lábios devoravam


a ânsia crua e incandescente dos meus...


A tarde volvia sem apego nem tormenta,


entardecendo a nudez pálida do desejo...



Barão de Campos

O teu lugar...







Lembro-me dos teus longos cabelos negros,
na força do teu olhar quente e doce,
quase a tocar o meu rosto...
Lembro-me da tua beleza,
próxima da minha loucura...
Lembro-me da forma espessa
e vermelha dos teus lábios...
Lembro-me do som melódico
da tua voz...
Lembro-me da tua pele macia,
na alegria do teu sorriso...
Lembro-me de te amar
sem que o soubesses...
Lembro-me dos teus gestos,
mesmo quando não te movias...
Queria sonhar contigo
e acreditar que não tinhas partido...
Queria ter-me despedido,
mesmo que o silêncio
fosse a palavra maior
contida num abraço
que a memória não apagaria...



Barão de Campos


No refluxo das palavras...








Não sei o que procuras quando me encontras,
nem o que sentes quando me tocas...
Não sei interpretar as palavras
que regurgitas com esforço...
Não sei se os teus olhos
conseguem ver ou ser vistos...
Não sei se os teus lábios
fervem de amor ou de ódio...
Não sei se o teu corpo
é abrigo ou clandestinidade...
Não sei se és mágoa,
dor ou apenas simulação...
Não sei se as palavras
que não pronuncias
são as únicas que dizes...
Não sei se os teus gestos
afagam mágoas
ou esmagam sonhos...
Não sei se as tuas mãos
se entrelaçam nas minhas
ou se ensaiam estrangular-me...
Não sei, se és noite,
madrugada ou manhã,
ou se és apenas a tarde
de mim já morta...
Não sei se és desejo,
prazer, amor, paixão
 ou apenas volúpia...

Sepultados vivos










Em cada canto sombrio,
inesperado, ouvem-se vozes,
conservadas pelo frio,
como apodrecidas nozes...

Ei-los! Sepultados vivos,
sem nomes nem idades...


Extraviados sem retorno,
aninham-se no ventre da noite,
viajam no corpo da madrugada e
amanhecem nos postais ilustrados
das cidades sem alma...

Cidade








Prostitutas deambulam na cidade
que ferve por entre os dentes das horas...
Desfilam numa passerele sem nome,
ensaiam gestos, movimentos...
Ondulam as ancas abertas,
exibem os seios hirtos...
Os lábios exalam um misto
de prazer e náusea...
As esquinas são abrigos armadilhados,
 gastos pela escravidão e pelo medo...
Ao longe, numa falsa timidez,
Maria, tem no olhar as primaveras
que não viveu...
Doce, quase humana,
olha a tarde em busca de um milagre...
Uma blusa transparente ondula,
a mini saia convida...
Maria, tem uma voz fraca,
doces e densos os olhos parecem húmidos...
O crepúsculo tomou conta da cidade,
as cores e as faces, são apenas silhuetas,
anónimas, sem alma...
O largo fica mais povoado,
sombras atravessando sombras...
Maria, acabou de negociar as entranhas...
Negou mais uma chance
de sentir-se amada...





Altares sem esperança
















Olhos desventrados nas colinas do medo,
lanços espezinhados pela tortura do tempo...
Dementes, os teus passos e pensamentos
difusos, confusos, ausentes, latentes...
Vultos que se movem nas esquinas,
sombras negras, rápidas e sólidas...
Desespero no olhar vazio das paisagens mortas...
Altares sem esperança, lugares estéreis,
gente gritando o último grito...
Ossadas esquecidas,
saltos altos, gravatas, poder, vaidade...
Longe, entre gemidos,
espasmos e sonhos,
a vida insiste, persiste, resiste
e perde...
Ciclo paradoxal,
consciências que se volatilizam
na eternidade...
Morte...


Barão de Campos

Promessas vadias









Últimas palavras, gestos, olhares,
traição da memória...
sedentos de ódio, rasgam o espaço,
perfuram lancinantemente a alma...
...sempre e nunca...
impossibilidades possíveis,
sofrimentos esquecidos...
eternas saudades que se esbatem
no passar dos dias...
ausência solidificada...
sombras partindo,
sons ofegantes,
distantes, quase inaudiveis...
memórias em agonia...
estranhos na estranheza
consolidada da negação...
Abraços gélidos,
lugares sem nome,
recordações assassinadas...
Promessas vadias,
derramadas pelas esquinas,
sonhos dedilhados
em acordãos falsos...
Palavras partidas,
gravadas nas lápides
quase brancas do silêncio...
Amor sangrando
no rasto de um poema
que desejou ser matéria,
forma e alma...
Frias e vazias
as mãos fecham-se,
os braços cruzam-se...
as lágrimas mortas e humilhadas
secaram a memória
dos corpos, num tempo
feito de gesso...



Barão de Campos


Deserto









Nada do que faças faz sentido,
cada palavra não significa nada...
Não consigo exprimir uma sensação,
um sofrimento ou paixão...
Hoje, os teus lábios são cinzentos,
pálidos, incolores...
Nada, nem o teu corpo, 
desperta o desejo...
Hoje, assisto à morte dos sentidos,
impotente...
Não habito os teus olhos,
nem lhes vislumbro encanto...
Hoje, sou a indiferença,
deserto do pensamento...
o Fim...


Agonia disforme






Inerte, incapaz de soletrar um desejo,
tombou a cabeça na ilusão fria,
inventando um sentido,
oferecendo mais uma chance...
Esforçado, o grito,
o apelo breve,
balanceando a noite
numa agonia disforme,
sem semblante...
Palavras silênciadas,
 na brevidade espessa,
dos silêncios doridos...
Moribundo na loucura
acesa de uma lágrima...
 derradeira...

No encanto dos teus gestos










Olhos rasgados na suavidade do teu rosto,
mordes os lábios húmidos e intensos,
tudo em ti se articula numa aura de desejo,
desenhas com os gestos os códigos mais secretos...

Não sei o teu nome,
talvez tenhas um nome que tenha nascido antes de ti,
um nome capaz de criar tanta beleza...
Talvez, o teu nome esteja gravado no sonho
mais íntimo de cada homem...

A tua voz é um som que atravessava o ar
causando um arrepio quase sólido...
O teu sorriso é brando e cauteloso,
como se escondesse algo magico...

Impregnas o espaço com o teu cheiro de Mulher,
seduzes com a naturalidade de uma flor,
brilhas com a beleza de uma estrela...

Barão de Campos

Dançando na noite














Dançavas na noite uma dança sem movimento,

corrias na direcção da madrugada,

em busca de um lugar teu...

palavra após palavra, descobrias um sentido

para manteres os olhos abertos...

O rubor do teu rosto, transparecia surpresa,

como se todas as manhãs

fossem reconhecidamente virgens e virginais...

Melancólica, a palavra suspensa

caminhava para o seu destino último...

O fogo flutuava em formas múltiplas,

indiferente à paisagem do teu verdadeiro ser...

Noite dentro da noite,

a madrugada rompia o seu derradeiro véu,

pausavas a vida, como quem suspende a respiração...

Absurda, a manhã orvalhava,

enquanto as lágrimas espreitavam,

cintilantes na boca do teu olhar...

Onde estiveres












Entre pensamentos, rostos e lugares,


encontrarás e escutarás vezes sem conta,


silhuetas, vozes, memórias de um tempo


que se cansou da espera nunca esperada...


Inventávamos um tempo sem tempo


entre dois espaços separados por alguma coisa


que se travestia de eternidade...


Vazios os teus olhos olham, distantes,


aqueles pequenos e imensos nadas,


que sabiam a tudo...


Lugares onde as mãos falavam, sussurravam,


por vezes choravam...


Longe, os horizontes parecem clamar


por um novo abraço...


Entre a neblina dos caminhos,


nascem formas perdidas,


ouvem-se canções, melodias, lamentos, múrmurios...


Indiferentes, as noites dobram-se,


as árvores espreguiçam-se e entre uma lágrima


e um sorriso, a lua preenche a invisibilidade dos nossos lábios...


Na magia dos lugares sem nome,


pairam os nossos fantasmas,


entrelaçados numa dança eterna...


Húmidos, os bosques, pululam de vida,


longínquos, os sons das fadas e dos gnomos,


misturam-se com vestígios da presença ausente


dos nossos corpos...


Na memória dos ventos, ondulam as últimas palavras,


espelhos do tempo, molduras com imagens serpenteando,


opacas, nubladas, encarceradas...


Algures, estamos nós...







Barão de Campos







Doce e quente






Lábios de vermelho espesso, húmidos e abertos,
olhar doce e lascivo…
Vértices, movimentos vincados,
gemidos latentes num arfar escaldante…
Seios desnudados e erectos,
mamilos de sabor corrosivo…
Ondular de ancas,
vislumbre de coxas abertas,
numa paisagem de Mulher desejo…

Penumbras afagadas








Dor, prazer em forma de arpão,

movimento que os gestos toleram

na loucura dos gemidos

que as palavras não soletram...

...ruivas, numa tonalidade

que dissimula o negro do olhar...

Soltas as gotas aprisionadas,

penumbras afagadas

em timbres mudos...

Arrancas nos silêncios espaçados,

ritmos lancinantes,

orfãos da razão e do tempo...

Compões melodias sem tom,

em desarmonias folheadas,

cobertas com espuma

cheirando a maresia...

Compulsivamente, prazer e ânsia,

abrigados na tua alma,

mágoa inominada,

lugar pálido e opaco,

singelo vestígio dos teus olhos

esbeltos, indefinidos,

talvez amantes amados...

Doce manhã






Doce, a manhã iluminava o teu rosto,
combinando de forma harmoniosa
as mais belas tonalidades…
Nos teus olhos primaveris,
desfilavam as mais belas paisagens…
lugares de desejo e ternura,
na profundeza rosácea das interdições…
Naquele tempo sem tempo,
a eternidade estava ali,
nos longos beijos onde as línguas
serpenteavam a dança do amor…
Havia no tempo e no espaço o encanto
das descobertas e o fervor das conquistas…
Naquele tempo, as pequeninas coisas,
eram as mais belas odisseias…
Naquele tempo sem tempo,
havia um lugar secreto no universo
onde o Amor acontecia…
Naquele tempo sem tempo,
amar-te era a viagem marcada
sem regresso…
o desejo quente e húmido,
o estontear entrelaçado,
do Amor…
Naquele tempo sem tempo
o Amor era a paisagem
mais bela…
Naquele tempo sem tempo
Um beijo tinha o poder
da criação universal…

Se...













Se pudesse voltar a tocar os teus cabelos côr de vento…
Se pudesse deitar-me sobre o teu corpo aberto e quente….
Se pudesse beijar os teus lábios espessos…
Se pudesse sentir-te minha por um só momento…
Se… Se…
Se tudo tivesse acontecido, nada ficaria do inobtido….
… e tu… não significarias mais nada…
nem lembrança nem desejo,
apenas cansaço…

Na espuma do tempo















Recordo-te na espuma do tempo,
recordo-te no acenar espesso
das palavras sufocadas...
Recordo-te na alegria breve...

Recordo-te no espelho quebrado
das imagens feitas de vapor...
Recordo-te na fragilidade
das promessas de amor...

Recordo-te na hora morta de mim,
na ilusão que se acentua...
Recordo-te na imposição
dos instantes vazios...

Recordo-te na imensa tarde das avenidas,
recordo-te nas noites à beira mar...
Recordo-te nas rochas,
repletas do teu luar...

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