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Sepultados vivos










Em cada canto sombrio,
inesperado, ouvem-se vozes,
conservadas pelo frio,
como apodrecidas nozes...

Ei-los! Sepultados vivos,
sem nomes nem idades...


Extraviados sem retorno,
aninham-se no ventre da noite,
viajam no corpo da madrugada e
amanhecem nos postais ilustrados
das cidades sem alma...

Cidade








Prostitutas deambulam na cidade
que ferve por entre os dentes das horas...
Desfilam numa passerele sem nome,
ensaiam gestos, movimentos...
Ondulam as ancas abertas,
exibem os seios hirtos...
Os lábios exalam um misto
de prazer e náusea...
As esquinas são abrigos armadilhados,
 gastos pela escravidão e pelo medo...
Ao longe, numa falsa timidez,
Maria, tem no olhar as primaveras
que não viveu...
Doce, quase humana,
olha a tarde em busca de um milagre...
Uma blusa transparente ondula,
a mini saia convida...
Maria, tem uma voz fraca,
doces e densos os olhos parecem húmidos...
O crepúsculo tomou conta da cidade,
as cores e as faces, são apenas silhuetas,
anónimas, sem alma...
O largo fica mais povoado,
sombras atravessando sombras...
Maria, acabou de negociar as entranhas...
Negou mais uma chance
de sentir-se amada...





Altares sem esperança
















Olhos desventrados nas colinas do medo,
lanços espezinhados pela tortura do tempo...
Dementes, os teus passos e pensamentos
difusos, confusos, ausentes, latentes...
Vultos que se movem nas esquinas,
sombras negras, rápidas e sólidas...
Desespero no olhar vazio das paisagens mortas...
Altares sem esperança, lugares estéreis,
gente gritando o último grito...
Ossadas esquecidas,
saltos altos, gravatas, poder, vaidade...
Longe, entre gemidos,
espasmos e sonhos,
a vida insiste, persiste, resiste
e perde...
Ciclo paradoxal,
consciências que se volatilizam
na eternidade...
Morte...


Barão de Campos

Promessas vadias









Últimas palavras, gestos, olhares,
traição da memória...
sedentos de ódio, rasgam o espaço,
perfuram lancinantemente a alma...
...sempre e nunca...
impossibilidades possíveis,
sofrimentos esquecidos...
eternas saudades que se esbatem
no passar dos dias...
ausência solidificada...
sombras partindo,
sons ofegantes,
distantes, quase inaudiveis...
memórias em agonia...
estranhos na estranheza
consolidada da negação...
Abraços gélidos,
lugares sem nome,
recordações assassinadas...
Promessas vadias,
derramadas pelas esquinas,
sonhos dedilhados
em acordãos falsos...
Palavras partidas,
gravadas nas lápides
quase brancas do silêncio...
Amor sangrando
no rasto de um poema
que desejou ser matéria,
forma e alma...
Frias e vazias
as mãos fecham-se,
os braços cruzam-se...
as lágrimas mortas e humilhadas
secaram a memória
dos corpos, num tempo
feito de gesso...



Barão de Campos


Deserto









Nada do que faças faz sentido,
cada palavra não significa nada...
Não consigo exprimir uma sensação,
um sofrimento ou paixão...
Hoje, os teus lábios são cinzentos,
pálidos, incolores...
Nada, nem o teu corpo, 
desperta o desejo...
Hoje, assisto à morte dos sentidos,
impotente...
Não habito os teus olhos,
nem lhes vislumbro encanto...
Hoje, sou a indiferença,
deserto do pensamento...
o Fim...


Agonia disforme






Inerte, incapaz de soletrar um desejo,
tombou a cabeça na ilusão fria,
inventando um sentido,
oferecendo mais uma chance...
Esforçado, o grito,
o apelo breve,
balanceando a noite
numa agonia disforme,
sem semblante...
Palavras silênciadas,
 na brevidade espessa,
dos silêncios doridos...
Moribundo na loucura
acesa de uma lágrima...
 derradeira...

No encanto dos teus gestos










Olhos rasgados na suavidade do teu rosto,
mordes os lábios húmidos e intensos,
tudo em ti se articula numa aura de desejo,
desenhas com os gestos os códigos mais secretos...

Não sei o teu nome,
talvez tenhas um nome que tenha nascido antes de ti,
um nome capaz de criar tanta beleza...
Talvez, o teu nome esteja gravado no sonho
mais íntimo de cada homem...

A tua voz é um som que atravessava o ar
causando um arrepio quase sólido...
O teu sorriso é brando e cauteloso,
como se escondesse algo magico...

Impregnas o espaço com o teu cheiro de Mulher,
seduzes com a naturalidade de uma flor,
brilhas com a beleza de uma estrela...

Barão de Campos

Dançando na noite














Dançavas na noite uma dança sem movimento,

corrias na direcção da madrugada,

em busca de um lugar teu...

palavra após palavra, descobrias um sentido

para manteres os olhos abertos...

O rubor do teu rosto, transparecia surpresa,

como se todas as manhãs

fossem reconhecidamente virgens e virginais...

Melancólica, a palavra suspensa

caminhava para o seu destino último...

O fogo flutuava em formas múltiplas,

indiferente à paisagem do teu verdadeiro ser...

Noite dentro da noite,

a madrugada rompia o seu derradeiro véu,

pausavas a vida, como quem suspende a respiração...

Absurda, a manhã orvalhava,

enquanto as lágrimas espreitavam,

cintilantes na boca do teu olhar...

Onde estiveres












Entre pensamentos, rostos e lugares,


encontrarás e escutarás vezes sem conta,


silhuetas, vozes, memórias de um tempo


que se cansou da espera nunca esperada...


Inventávamos um tempo sem tempo


entre dois espaços separados por alguma coisa


que se travestia de eternidade...


Vazios os teus olhos olham, distantes,


aqueles pequenos e imensos nadas,


que sabiam a tudo...


Lugares onde as mãos falavam, sussurravam,


por vezes choravam...


Longe, os horizontes parecem clamar


por um novo abraço...


Entre a neblina dos caminhos,


nascem formas perdidas,


ouvem-se canções, melodias, lamentos, múrmurios...


Indiferentes, as noites dobram-se,


as árvores espreguiçam-se e entre uma lágrima


e um sorriso, a lua preenche a invisibilidade dos nossos lábios...


Na magia dos lugares sem nome,


pairam os nossos fantasmas,


entrelaçados numa dança eterna...


Húmidos, os bosques, pululam de vida,


longínquos, os sons das fadas e dos gnomos,


misturam-se com vestígios da presença ausente


dos nossos corpos...


Na memória dos ventos, ondulam as últimas palavras,


espelhos do tempo, molduras com imagens serpenteando,


opacas, nubladas, encarceradas...


Algures, estamos nós...







Barão de Campos







Doce e quente






Lábios de vermelho espesso, húmidos e abertos,
olhar doce e lascivo…
Vértices, movimentos vincados,
gemidos latentes num arfar escaldante…
Seios desnudados e erectos,
mamilos de sabor corrosivo…
Ondular de ancas,
vislumbre de coxas abertas,
numa paisagem de Mulher desejo…

Penumbras afagadas








Dor, prazer em forma de arpão,

movimento que os gestos toleram

na loucura dos gemidos

que as palavras não soletram...

...ruivas, numa tonalidade

que dissimula o negro do olhar...

Soltas as gotas aprisionadas,

penumbras afagadas

em timbres mudos...

Arrancas nos silêncios espaçados,

ritmos lancinantes,

orfãos da razão e do tempo...

Compões melodias sem tom,

em desarmonias folheadas,

cobertas com espuma

cheirando a maresia...

Compulsivamente, prazer e ânsia,

abrigados na tua alma,

mágoa inominada,

lugar pálido e opaco,

singelo vestígio dos teus olhos

esbeltos, indefinidos,

talvez amantes amados...

Doce manhã






Doce, a manhã iluminava o teu rosto,
combinando de forma harmoniosa
as mais belas tonalidades…
Nos teus olhos primaveris,
desfilavam as mais belas paisagens…
lugares de desejo e ternura,
na profundeza rosácea das interdições…
Naquele tempo sem tempo,
a eternidade estava ali,
nos longos beijos onde as línguas
serpenteavam a dança do amor…
Havia no tempo e no espaço o encanto
das descobertas e o fervor das conquistas…
Naquele tempo, as pequeninas coisas,
eram as mais belas odisseias…
Naquele tempo sem tempo,
havia um lugar secreto no universo
onde o Amor acontecia…
Naquele tempo sem tempo,
amar-te era a viagem marcada
sem regresso…
o desejo quente e húmido,
o estontear entrelaçado,
do Amor…
Naquele tempo sem tempo
o Amor era a paisagem
mais bela…
Naquele tempo sem tempo
Um beijo tinha o poder
da criação universal…

Se...













Se pudesse voltar a tocar os teus cabelos côr de vento…
Se pudesse deitar-me sobre o teu corpo aberto e quente….
Se pudesse beijar os teus lábios espessos…
Se pudesse sentir-te minha por um só momento…
Se… Se…
Se tudo tivesse acontecido, nada ficaria do inobtido….
… e tu… não significarias mais nada…
nem lembrança nem desejo,
apenas cansaço…

Na espuma do tempo















Recordo-te na espuma do tempo,
recordo-te no acenar espesso
das palavras sufocadas...
Recordo-te na alegria breve...

Recordo-te no espelho quebrado
das imagens feitas de vapor...
Recordo-te na fragilidade
das promessas de amor...

Recordo-te na hora morta de mim,
na ilusão que se acentua...
Recordo-te na imposição
dos instantes vazios...

Recordo-te na imensa tarde das avenidas,
recordo-te nas noites à beira mar...
Recordo-te nas rochas,
repletas do teu luar...

Alma de gelo










Mãos gretadas pelo frio,
expostas à luz incandescente
da memória aberta no peito
já gasto da vida...

Olhar firme de ferro,
comoção da inocência ultrajada...
Rasgos de sol à deriva,
gente morta de tanto morrer...

Cânticos desfeitos na areia húmida,
escassa e breve a melodia...
Vozes ondas clamando mar,
soluçando no seu navegar...

Granízo da alma em tapetes de lama,
artérias de fogo no vulcão do tempo,
cinzas de lágrimas e de lamento
na chama da vida e do vento...

Amanhecer...














Amanhecer sem tempo,
lugar de chuva
e de ontem...
Memória perdida e louca
na fronteira rasgada...

Distância no coração,
lâmina cravada no pensamento...
Uma constante oração,
orada em sofrimento...

Deixem a morte
submersa no bosque,
não a obriguem
a mostrar-se


Adeus poesia...


















Sei que partiste p'ra longe
sem me avisar...
Deixáste a indiferença
em teu lugar...
Ficou a sombra de ti,
gravada nas paredes da alma...
Ficou a mágoa
desta dor habituada...
Ficou mais longe a distância,
perdida na manhã sem vida...
Sei que partiste p'ra longe
sem me avisar...
Ficou a esperança
a amanhecer o teu voltar...

Nada...












Nada...
Apenas o silêncio branco das palavras
impronunciáveis...
Nada...
Apenas o ontem ruminado
na negação...
Nada...
Apenas os dias de mim já mortos
na queda delirante...
Nada...
Apenas a chuva aberta
nas águas estagnadas...
Nada...
Apenas o amargo e neutro
do meu pulsar...
Nada...
Apenas esta loucura latente,
nesta vontade de não ser...

Na tua indiferença...








Morrer nas palavras
o som desesperado da mente,
procurar nos lugares mais desertos
a humidade seca dos teus lábios
intolerantes e anacrónicamente lascivos
na pretensão da indiferença,
imponentes, hirtos e esmagadoramente mortíferos
no acto de sorver a vida e o prazer que a inunda...

Lábios ondulantes na lúxuria estridente,
selando os contornos de um amanhã disforme,
quase inerte, ainda que bífido e venenoso...
Sinto a desventura lenta da saliva corrosiva,
sulcando hemorrágicamente a alma,
num beijo ferindo um desejo por cumprir...

Cerro os dentes, silencio a mente,
desligo o olhar, quebrando o encanto
num gesto de presa...

Procuro nas tuas mãos um sinal,
um movimento de cúmplicidade...
Alguma coisa que permaneça
na memória da memória sem nome...

Manuscrito...












Lembro-me do tempo em que se escreviam cartas,
do tempo em que se aguardava ansiosamente a vinda do carteiro...
Pegava na carta, olháva o remetente e conseguia sentir
uma presença, um gesto, um, sorriso ou uma lágrima...

A cor e o cheiro revelavam lugares, paisagens, sentimentos,
o envelope amarrotado, talvez um pouco encardido,
revelava a sua história...

Cuidadosamente, para não rasgar a carta,
abria o envelope, retirava a missiva e iniciava
a longa viagem...

Cada letra, frase ou rasura denunciava
as etapas do pensamento...

No final, buscava algo mais, uma nota de rodapé,
um vestígio de alguma coisa que desejavas ter dito
e não o disseste...

Naquela noite e nas seguintes, 
a tua carta era todo o meu património,
um testemunho da minha e da tua existência...

Na manhã seguinte, pegava na caneta,
olhava o papel como se lhe imprimisse um desejo,
desenhava os meus sentimentos,
talvez desejos, talvez receios e mágoas profundas...

Num gesto único, dobrava a carta,
colocava-a dentro de um envelope personalizado,
meticulosamente colado, escolhia um selo,
olhava o relógio e corria para o marco do correio...
Olhava em meu redor, certificando-me se alguém me olhava,
colocava a carta na abertura do marco,
tendo o cuidado de escutar o som da  sua queda...

Lembro-me, como era possível manuscrever uma lágrima...



Barão de Campos






O último post...






Cansado de procurar nas palavras
o elo perdido,
fixou o olhar vítreo no blogue,
releu cada palavra,
perscrutou cada pensamento,
prosseguiu na indiferença...

Do fundo da alma, 
sabia que este seria o seu último post,
como quem adivinha uma partida,
numa despedida, contida gota...
Suspendeu a respiração,
reviveu memórias sem título,
locais irreais, sonhos desfocados...
procurou resistir mais uma palavra,
uma frase, uma lágrima que fosse...

Entardecia, a mente nublava-se,
faltava apenas quebrar a última fronteira,
reconhecer a inutilidade das palavras...
Partir sem destino,
entrar dentro delas
e sentir-lhes o vazio...



Quando a memória partir...








Não sei quanto tempo nos resta,
quantos dias terei para te olhar,
beijar, tocar ou apenas sentir a tua presença...
Não sei durante quanto tempo
vamos adormecer de mãos dadas...
Não sei... cada dia parece mais breve...
Sabes, do fundo das nossas lágrimas,
ambos sabemos que um dia sonhámos
muitos dos sonhos vividos...
Sabes, sempre vi no verde dos teus olhos,
a eternidade que o teu corpo te nega,
sempre vi no teu sorriso o medo da dôr que suportas...
Hoje, adormeço no cansaço das lágrimas
que não poderemos chorar juntos...
Não sei como poderei chorar-te
sem te ter junto a mim...
Sabes, quando penso nisso,
continuo a acreditar que ficas
depois de partir...
Queria pronunciar o teu nome,
para que ninguém te confunda,
assinar e reconhecer o nosso amor,
para que ninguém se faça passar por ti...
Queria ter a certeza que depois de Nós,
a memória não partísse nunca...
Queria acreditar que ao pensar-te,
algures, escutarias o meu apelo.. 
Durante todos estes anos o nosso amor foi único,
ameaçado, perigoso, eterno e breve...
Profundo, puro e belo como o nosso filho...
Um Milagre!


Dentro do Medo










Agarro as palavras, arrasto-lhes o sentido,

pronuncio-as prudentemente,

silencio-lhes a aspereza e o mêdo,

pego-lhes de rompante,

como quem apanha uma serpente...

Viscosas, enrolam-se, estrangulam-me,

numa roda que gira entrecurtada

por silêncios que ruminam

sem propósito ou destino...

Rumo em direcção aos lugares

famintos de dôr e amor,

carentes de vida e de sonho...

Debruço-me donde vislumbrava

horizontes e marés...

Estemeço na vertigem,

irmã do abandono...

Olho-te no caminho da memória,

revejo a tua expressão,

sem vida...

Assusto-me nas palavras que não digo,

como quem ama em segredo...

Adormeço na tarde ainda quente

da tua presença colorida...

Adivinho a manhã que se recusa a nascer,

olhando a madrugada morta...

Abraço o vazio, num gesto sem nexo,

amarro memórias,

imagens, lugares, paisagens...

Recolho o último vestígio,

como quem emoldura

a sua própria imagem...

Ondulo o espanto no desencanto

do canto...

Navego na espuma dos dias

em busca de um navio fantasma...



Barão de Campos

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